Vortex Arquitetura

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Cardona

Testando a parada

10 Dicas de Leitura de Livros de Ficção Científica

Selecionei aqui dez livros de ficção científica que recomendo para qualquer um interessado em uma boa história, daquelas de te fazer pensar e não descansar até chegar a última página. A ficção científica quase nunca figura nas listas dos livros mais vendidos e isso é uma pena, pois ela proporciona a expansão de nossa consciência, fazendo-nos ver o mundo de uma outra maneira, com outras regras e de outros ângulos.

Alguns dos livros abaixo você só vai encontrar em sebos mas acredito que a maioria se ache nas grandes livrarias, seja na Internet ou nas mega-stores. Tem até a opção de se fazer download de alguns deles grátis, mas lembre-se que isso é ilegal, além de ser muito ruim ler nas atuais telas de computadores e assistentes digitais de hoje em dia.

Bem, chega de papo. Vamos à lista com um resumo de cada obra:

1. 2001 - Arthur C. Clarke
2001 Muitos já viram o filme mas a maioria não entendeu o final. 2001, o livro, é ótimo. Muito bem escrito, indo aonde o filme não foi, desvendando as questões do Bebê Estrela e dos astronautas Bowman e Poole. A parte inicial, onde é contado o crepúsculo da humanidade e da chegada do monolito por sí só daria um livro inteiro.

Arthur Clarke escreve bem e sabe prender a atenção do leitor. O seu único problema é fazer trilogias em quatro partes. :-) Depois de 2001 ele escreveu também 2010, 2061 e 3001. 2010 é muito bom; 2061 é aceitável mas o 3001 ele não precisava ter escrito. Mesmo assim recomendo que se você gostar do primeiro livro, leia os outros da série. Bom para ver como outras civilizações descobrem se já estamos inteligentes o suficiente para um contato.

2. Contato - Carl Sagan
Contato Eu já admirava o Carl Sagan por toda a sua contribuição para a astronomia, mas depois de Contato ele ganhou vários pontos a mais comigo. Contato mostra como poderíamos receber uma mensagem de uma civilização extraterrestre. A base científica e a estrutura do livro são muito bem fundamentadas; não se poderia esperar outra coisa de Sagan.

Mesmo que você já tenha visto o filme não deixe de ler o livro. O livro tem um final, que não foi incluído no filme, que é de arrepiar. Bom para quem acredita que somos os únicos seres do universo.

3. Duna - Frank Herbert
Duna Duna é uma série de ficção científica que me acompanha desde a adolescência. Eu morava com dois outros amigos e eles tinham os três ou quatro primeiros volumes da série.

Duna conta a história de um planeta deserto e de uma família que é indicada para governar este mundo. Em Duna é produzida uma especiaria que é valiosíssima e possui poderes de prolongar a vida das pessoas, além de dar a presciência (visão de futuro) para outros. O livro é todo cheio de intrigas entre as famílias que governam os mundos do universo conhecido que afeta todos os personagens (tramas dentro de tramas dentro de tramas).
Frank Herbert criou um mundo extremamente complexo e verossímil, dando uma densidade toda especial à obra.

Recomendo todos os seis livros da série:

1. Duna
2. O Messias de Duna
3. Os Filhos de Duna
4. O Imperador Deus de Duna
5. Os Hereges de Duna
6. As Herdeiras de Duna

Outros livros foram escritos pelo filho de Herbert, Brian. Apesar de não se compararem à maestria do pai, são um bom divertimento para os fãs não-radicais. Bom para quem acha que água nunca acaba.

4. Evolution - Stephen Baxter

Um livro que acompanha a linha evolutiva do homem desde quando os nossos antepassados eram simples amebas sem raciocínio, passando pelos marsupiais, homens pré-históricos e indo da civilização atual para milhões de anos no futuro. Muito bem escrito e fantástico por conseguir criar uma história coerente e fantástica, deixando saudades a cada capítulo quando a história avança uns milhares de anos no futuro. Bom para quem acha que não descendemos dos macacos.

5. Fundação - Isaac Asimov
Asimov e sua Fundação são clássicos da ficção científica. Neste livro Asimov discute o que aconteceria se pudéssemos prever o futuro através da ciência. Hari Seldon, um cientista, desenvolve a psico-história, uma ciência que consegue prever estatisticamente o que acontecerá no futuro analisando a ação coletiva de milhões de pessoas.

A trama se inicia quando Seldon prevê que se nada for feito a humanidade poderá ser destruída. A partir daí ele grava mensagens para serem lidas no futuro para ajudar as pessoas a mudar o destino do mundo. Bom para quem gosta de números.

6. O Homem de Dois Mundos - Frank Herbert e Brian Herbert
Pouco antes de morrer Frank Herbert escreveu este livro com seu filho, Brian. Muita ficção e humor. A trama se passa na Terra, quando o personagem principal descobre que somos somente a criação das mentes de um mundo alienígena. Bom para quem quer dar boas risadas.

7. Encontro com Rama - Arthur C. Clarke

Outro livro sobre encontro com civilizações alienígenas. Se bem que em Rama não se econtram os alienígenas, mas somente uma enorme nave, em formato cilíndrico que entra no sistema solar. Uma equipe de astronautas é selecionada para ir até Rama e descobrir os seus segredos. Como em 2001 Clarke escreveu quatro livros para esta série:

1. Encontro com Rama
2. Rama II (O Enigma de Rama)
3. O Jardim de Rama
4. A Revelação de Rama

Também acho que o último livro da série não precisava ser escrito. No mais os outros são muito bons. Bom para quem gostaria de ver uma viagem real até a estrela mais próxima do Sol.

8. Um Estranho Numa Terra Estranha - Robert A. Heinlein
Outro clássico da ficção científica. Aqui é contada a história de um rapaz que nasceu em Marte e depois é trazido para a Terra.

Ele acaba desenvolvendo super-poderes e até inicia uma igreja própria. Bom para quem tem sede de poder.

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9. Simulacron 3 - Daniel F. Galouye
O mesmo amigo que me sugeriu ler Duna também falou deste livro e me contou a sua história. Só consegui lê-lo por pura sorte dez anos depois quando viajava de férias e o encontrei em uma minúscula biblioteca do hotel onde eu estava hospedado. Conta a história de um mundo simulado, que havia sido construído para se fazer testes de produtos antes de lançá-los no mundo real. O filme O Décimo Terceiro Andar foi inspirado nele. Bom para quem vive no mundo da lua.

10. Visões de Robô - Isaac Asimov
Este livro contém clássicas histórias de robôs de Asimov. Mas o que mais me agradou nele foram os artigos que Asimov escreveu.

Apesar de terem sido escritos a várias décadas atrás são de uma visão clara impressionante do futuro. O cara era um gênio mesmo. Bom para quem acha que sabe de tudo.

E você? Quais são os seus livros de ficção científica prediletos? Inclua-os nos comentários abaixo e me ajude a ter uma vida mais feliz!


Rodrigo Stulzer

O valor da memória

“Não tenho pejo de confessar que sou um cidadão acomodado e omisso e, como tal, completamente destituído de espírito público. Isso não impede, entretanto, que seja de parecer que indivíduos deste jaez deveriam ser fuzilados, a começar por mim, naturalmente”. Este é o sessentão Carlos Reverbel falando de si mesmo, em 1978. Seu texto é excelente em forma e extraordinário em fundo, chegando ao requinte dessa auto-ironia, como hoje quase não se vê na crônica de jornal, salvante o caso de um Carlos Heitor Cony, com que tem laços óbvios de parentesco espiritual: jornalistas da antiga, ratos de jornal, cultos, francófilos, céticos, profundos amantes da memória.

Memória, começo necessário desta conversa sobre o relançamento de parte da obra de Carlos Reverbel, em projeto da Já Editores, sob organização de Cláudia Laitano e Elmar Bones, sob o título Carlos Reverbel — Textos escolhidos, livro que se encontra na Feira a preços camaradas. O volume compreende quatro livros inteiros: uma biografia de Simões Lopes Neto, Um capitão da Guarda Nacional; um livro de memórias, Arca de Blau; dois livros de crônicas, Barco de papel e Saudações aftosas; e ainda textos esparsos, desde reportagens para a antiga Revista de Globo e Província de São Pedro, até textos originalmente estampados no Correio do Povo, no tempo em que este jornal prezava a vida cultural a sério (e não era este mero arrolamento de notas sobre atividade cultural, porque não tinha medo de textos de mais de dez linhas), e na Zero Hora, onde Reverbel deu à luz uma série de suas crônicas, sempre encorpadas pela memória. (O livro é um refrigério para a vida mental da redondeza, porque dá a conhecer uma obra imperdível, e o faz em forma adequada: capa dura, imprescindível para o bom manejo das 795 páginas, a que falta apenas um índice onomástico.)

Reverbel nasceu em 1912, em Quaraí. Criou-se numa vida de fazendeiro, em família de largas posses e bastante ilustrada, coincidência que era relativamente comum até certo tempo atrás. Veio a Porto Alegre, para estudar, em 1927, e seguiu estudando no antigo Anchieta até 1933, quando abandonou os estudos formais sem formar-se e sem habilitar-se, portanto, para qualquer curso superior, para desgosto de sua família. Resolveu ingressar no jornalismo, vocação rara em sua geração e classe; para começo de carreira, preferiu trabalhar num jornal de cidade acanhada, a Florianópolis de 1934. Depois disso retornou ao Rio Grande do Sul, onde fez carreira de sucesso no Correio do Povo. Militou na Livraria do Globo, como secretário burocrata e como jornalista, nas duas revistas da época, a popular Revista do Globo e a super-intelectualizada Província de São Pedro.

Na altura de 45, intensificou a convivência (que jamais terminaria) com a obra de Simões Lopes Neto. Primeiro, numa extensa reportagem com a viúva, que ainda vivia; depois com a redescoberta dos textos que viriam a compor o livro Casos de Romualdo; tempos adiante, com a biografia que agora se reproduz. Em suas memórias, fez questão de apor título alusivo ao escritor pelotense: aquela “arca de Blau”, que é o tesouro das memórias de Reverbel, evocava o personagem-narrador dos Contos gauchescos. Em 47, vendeu quase tudo que tinha para viver por dois anos em Paris, já casado. Na volta, viria a ser um dos mais importantes, senão o mais importante, dos jornalistas culturais de século 20 no estado, ao protagonizar uma seção de literatura e cultura no Correio, a partir de 1954. Não apenas editou, escreveu, resenhou e fez reportagens ali; também inventou pautas, propôs textos para escritores daqui e de fora, promoveu enquetes, fez andar a fila da vida cultural letrada.

Viveu até 1997. Sua presença faz uma falta enorme: para além da figura gentil e acolhedora que era, tratava-se de um daqueles sujeitos que tinha, já de moço, a perspectiva da história e o gosto das reminiscências, motivo por que soube desde cedo aproveitar idéias que os jornalistas nem sempre percebem como importantes. Exemplo: em 1948, se lançou a Santana do Livramento entrevistar uma senhora de 93 anos que tinha conhecido, adolescente, naquela cidade, ninguém menos que José Hernández, o autor do Martin Fierro, clássico escrito em parte ali mesmo, na fronteira brasileiro-uruguaia.

Seu faro histórico o fazia igualmente detectar valores no presente. É o caso de uma extensa reportagem que faz, no calor da hora de 48, sobre os jovens gravuristas de Bagé, terra que, segundo o bem humorado mas nunca nihilista Reverbel (o nihilismo é uma das flores fáceis do jornalismo cultural, garantindo sucesso junto aos impressionáveis e aos tolos de todos os tempos mas improdutivo a longo prazo — o prazo mental com que Reverbel e os bons trabalham), seria uma das mais improváveis para a eclosão de movimento artístico de tipo moderno.

Na crônica propriamente dita, é um dos bambas da língua portuguesa, sem favor algum. Com estilo agradável na linha de Rubem Braga (ou, no campo da memória, de Pedro Nava), brincando com o tema e consigo mesmo, manejando a alta cultura letrada e com a vivência profunda da cidade — especialmente a cidade de Porto Alegre, que ele retratou em detalhes e minúcias a que os amantes do tema devemos agradecer penhorados —, ele soube comentar o miúdo recente, como a estranha mania do “chispa”, nos anos 70 do Parcão, tanto quanto o graúdo das questões profundas, em particular as mudanças na paisagem da cidade, tudo sempre tomado de um ângulo capaz de mostrar o ridículo que se esconde na solenidade.

Maragato de família, antigetulista nos anos 30, espantado com o sucesso do Tradicionalismo mas capaz de elogiar a importância das pesquisas de Paixão Cortes; apreciador de intelectuais lusófilos como Gilberto Freyre ou Moysés Vellinho, amigo de Erico Verissimo e admirador de Darcy Azambuja; incorformado com o barulho em Porto Alegre e envolvido sempre com a divulgação das leituras antigas da terra, que ele cultivava com requintes de colecionador de livros e o paladar refinado dos grandes leitores — Reverbel é daquelas figuras que engrandeciam o interlocutor, ao vivo, e fazem o bem do leitor, por escrito. Revê-lo agora, nas páginas da bela edição recente, é um presente sublime.


Luís Augusto Fischer